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Imaginação e repertório variado ajudaram Lia Wyler a traduzir a saga

  • Vitória Christino
  • 24 de mai. de 2017
  • 4 min de leitura

"Quadribol", "trouxas" (foto acima), "Pomo de ouro" e outras expressões que marcaram a série Harry Potter no Brasil não estão no original em inglês. Elas foram criadas pela tradutora Lia Wyler, responsável pela versão brasileira de todos os livros da saga. A gerente editorial da Editora Rocco e filha da autora, Vivian Wyler, acredita que o sucesso da tradução de Lia se deve ao fato de ela ter uma grande criatividade linguística, muita imaginação e um repertório bastante variado.


Ela disse que Lia trabalhou sozinha na tradução das obras, tirando dúvidas com a editora inglesa para chegar às melhores soluções ao transpor o universo de Harry Potter para o português, respeitando a dicção e os recursos linguísticos da autora. Lia adaptou também o nome de alguns personagens como Rony e Gina Weasley, Tiago Potter e das casas de Hogwarts.


A gerente explicou que durante a tradução, existem prazos a serem cumpridos, que variam de um livro para outro. As traduções dos últimos volumes de Harry Potter duraram em média três meses, em regime de dedicação exclusiva por parte da tradutora. Vivian disse que o envio do material produzido para a editora era regular ao longo do processo.


- Esse processo todo foi feito ao mesmo tempo por Lia e pela editora. O trabalho de copidesque foi feito de forma simultânea à tradução do livro, justamente para garantir o menor prazo possível de publicação da obra e atender aos anseios dos leitores, que desejam a edição em português logo depois que a versão original é publicada – comentou.


A tradutora Lia Wyler (foto ao lado) ganhou maior reconhecimento após traduzir obras da série Harry Potter, da autora JK Rowling. Vivian afirmou que a Lia foi a primeira opção da editora para traduzir as obras de Rowling. Ela comentou que essa escolha foi feita por Lia por já ser uma tradutora da casa, ter ganhado diversas menções honrosas por traduções de outras obras infantis e, principalmente, por conhecer bem a cultura britânica que impregna as narrativas da autora.


Opiniões divergentes

Alguns termos traduzidos por Lia geraram opiniões divergentes em fãs da série. Palavras foram criadas, nomes mudados e expressões adaptadas, e o público se manifestou sobre essas mudanças. Vivian esclareceu que o foco da tradutora sempre foi buscar um resultado próximo ao obtido pela autora. A gerente explicou que alguns termos precisam ser aprovados antes pela editora, e outros não, dependendo do nível de importância para a narrativa.


- As opiniões sobre as traduções foram da incompreensão - aos que gostam da literalidade - à adoração e ao reconhecimento acadêmico. Em alguns casos ela inventou palavras como “pomorim” - o nome do passarinho com que os bruxos jogavam quadribol -, o próprio “quadribol”, “estrunchamento” para designar a tentativa malsucedida de aparatar, e muitas outras – comentou.


Divulgação

Jogo de quadribol entre a Grifinória e a Sonserina no segundo filme Harry Potter e a Câmara Secreta.

Em entrevista para o portal “Omelete”, a tradutora esclareceu que desde o primeiro livro entrou em contato com JK Rowling que a enviou uma lista de nomes e pediu que ela traduzisse. Segundo Lia, a autora deu “carta branca” para ela recriar e nunca pediu explicações posteriores.


- Tenho uma vantagem por a JK entender português. Suponho que ela ache a minha tradução suficiente, pois jamais reclamou de deficiência alguma. Nunca fui pressionada pela editora inglesa nem pela brasileira – afirmou.


Vivian disse que a tradução de Harry Potter não é um trabalho simples, devido à complexidade do mundo mágico construído por JK, e o fato da Lia ser uma tradutora experiente, inclusive com literatura infanto-juvenil, contribuiu para a aceitação e popularidade da série no país.

Lia disse à revista “Época” que tornar o texto traduzido fluido não significa que o tradutor tenha que impor o seu estilo pessoal. Senão, ele corre o risco de “domesticar” tanto o texto, distanciando-o de tal forma do original que ele deixe de pertencer à JK Rowling.


Quanto às construções sofisticadas, ela falou que elas são perfeitamente traduzíveis para o português, que é uma língua de extraordinária riqueza a que não faltam palavras para descrever cenários, acontecimentos e diálogos. A tradutora revelou também que fica decepcionada com a incompreensão que cerca o ato de traduzir. Segundo ela, existe uma falta de percepção do quanto de inventividade os tradutores precisam empregar em uma tradução.


- Precisamos criar para evitar a repetição de palavras, reestruturar frases visando maior legibilidade do texto e mil outros recursos de que se lança mão, por vezes instintivamente, dados os curtos prazos que temos para refletir. Considero Harry Potter, com a sua multiplicidade de registros - narração, artigos de jornal, textos medievais, contos folclóricos - o maior desafio que já enfrentei depois de A Fogueira das Vaidades, de Tom Wolfe – explicou.


Ao site “Potter Heaven”, a tradutora ainda ressaltou que, em uma série como Harry Potter, o tradutor se obriga a repetir escolhas feitas anteriormente, ainda que ele saiba que estejam erradas ou que existem outras melhores. Lia disse que a maior dificuldade que um tradutor encontra ao trabalhar em uma série grandiosa como essa é a escassez de tempo e a ambição desmedida dos envolvidos.


Lia é formada em Letras, pela PUC-Rio e fez mestrado em Comunicação na UFRJ. Antes de Harry Potter, Lia já era reconhecida no meio literário. Entre os autores que traduziu estão Tom Wolfe, Saul Below, Muriel Spark e John Updike. Em uma entrevista ao portal UOL, Lia declarou que a formação de uma pessoa começa muito antes de ela se iniciar em uma profissão, como aconteceu com ela.


- Formei-me em escutar histórias da boca de minha mãe e dos adultos, antes de começar a traduzir, antes de fazer Letras, antes de me especializar em tradução - disse.


Lia disse também que segue o ritmo normal do livro e que não lê o final das histórias que traduz antes de elas terminarem. Ela falou que, como traduzir com prazo curto é uma tarefa muito monótona, o que anima o tradutor é ir descobrindo o que cada capítulo traz de novidade.


- O tradutor é um leitor privilegiado, porque lê antes dos outros leitores. Mas ele se comporta como todos os leitores, quer curtir cada parágrafo. Eu, pelo menos, sou assim - afirmou.


 
 
 

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Estudantes de Comunicação Social da PUC-Rio. Projeto sobre os 20 anos de Harry Potter desenvolvido para a disciplina de "Redação em Jornalismo Impresso", turma 2IC. 

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