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A popularização de personagens femininas na literatura infanto-juvenil

  • Karen Krieger
  • 24 de mai. de 2017
  • 5 min de leitura


Os livros da série "Harry Potter" foram um marco para a literatura infanto-juvenil pela narrativa que destaca personagens femininas, geralmente apagadas no meio literário. A especialista em literatura infanto-juvenil Priscila Mana Vaz afirma que "Harry Potter" inovou a literatura infantil por popularizar a narrativa em formato de universo - a história ocorre dentro de um mundo aberto, no qual as personagens podem se deslocar. Elas afetam o curso da narrativa devido suas ações, tomando decisões tão importantes quanto as dos masculinos. Assim, junto com a narrativa, personagens mais complexas também foram desenvolvidas, inclusive as femininas.


- A obra traz grandes exemplos femininos que seguem pelos oito livros - disse Priscila.


Com mais de 450 milhões de exemplares em todo o mundo, o sucesso da saga pode ser explicado a partir tanto de seu conteúdo quanto de sua forma. A pesquisadora do iiLer Maria Clara Cavalcanti acredita que Rowling quebrou vários tabus sobre a literatura infantil, como a necessidade de ilustração e número de páginas limitado. Descobriu-se que a criança apresenta um fôlego de leitura maior que o esperado. Os livros também não infantilizam as crianças com uma linguagem simplificada.


- Outra razão para o sucesso de “Harry Potter” é que J. K. Rowling segue na escrita o roteiro a "Jornada do Herói" de Vladimir Propp já internalizado em nós e por isso facilmente reconhecido por todas as idades. Isso sem falar que ela dá uma de Sherazade. Os capítulos terminam sempre em um clímax que só será resolvido no próximo - contou a pesquisadora.


A pesquisadora do iiLER Maria Clara Cavalcanti conta sobre o sucesso da obra de J.K. Rowling

Além de quebrar tabus no meio infantil, Rowling também discute preconceitos em seus livros. Maria Clara também destaca que essas reflexões, como a própria morte por exemplo, também ajudam na identificação do leitor. Para a pesquisa, Rowling trata em seus livros sobre humanos verdadeiros.


- Ela mostra que não existe a criança idealizada, sempre comportada e obediente. Todos os personagens têm raiva, ciúmes, inveja, tristeza, o que os torna humanos - disse Maria Clara.


Já havia na literatura mundial meninas que eram fortes e decididas. Alice é um ótimo exemplo, pois se ela não tivesse se dispersado da irmã nada da narrativa aconteceria, tanto nos livros "Alice no país das maravilhas" e "Alice através do espelho", ambos do autor Lewis Carroll. Contudo, apenas com "Harry Potter" esse tipo de personagem se democratizou para o público em geral.


Os historiadores Arielle Farnezi Silva e Olávio Neto viram um grande potencial nas personagens femininas da série, o suficiente para a elaboração do trabalho "Uma análise da representação feminina e as referências culturais na saga Harry Potter: quando até mesmo a magia dialoga com a realidade".


- Surgiu um grupo de trabalho sobre gênero em um simpósio e decidimos aproveitar a oportunidade. Para nós dois, a saga Harry Potter é repleta de personagens mulheres que podem servir de exemplo de força. São mulheres claramente independentes, que lutam contra os domínios masculinos e são cientes que sua condição não é inferior à do sexo masculino - afirmaram ambos.


Segundo os historiadores, estamos em uma tendência de abrir mais espaço no mundo literário para as mulheres, devido atuais mudanças sociais. “Várias autoras mulheres estão ganhando espaço nesse meio e aproveitam para falar dessas temáticas em suas obras”.


- Na obra de J. K. Rowling é possível encontrar mulheres ocupando os mais diversos espaços. Elas ocupam desde o papel tradicional destinado às mulheres, que é o ambiente doméstico, até cargos do alto poder. O que Rowling deixa claro na sua obra é que não existe um cargo ou um papel desempenhado por homens que as mulheres não possam desempenhar da mesma forma. Ela não ignora que o machismo é uma realidade, mas aproveita seu espaço e influência para trabalhar tal temática - comentaram.


Uma das editoras da Rocco, Mônica Figueiredo, destaca os papéis sociais que são representados na narrativa. De mãe afetuosa até vilã dominadora, as mulheres em “Harry Potter” retratam a realidade.


- Ao longo da saga, há personagens com diferentes tipos de personalidades (tímidas, dominadoras, impetuosas, pérfidas, românticas) como uma forma de apresentação diversa da realidade. É justamente esta diversidade que gera a possibilidade de identificação e empatia por parte do público - disse Mônica.


Tais personagens femininos fortes foram influências positivas para as meninas que cresceram lendo a saga “Harry Potter”. A estudante de audiovisual Thalia Villafañe Santos Duarte, de 20 anos, conheceu a série quando criança. Aos sete anos, sua mãe lia “Harry Potter e a Pedra Filosofal” - primeiro volume - na hora de dormir. Mais tarde, aos dez anos quando seu pai lhe deu o sexto volume, decidiu ler por ela mesma as aventuras do bruxo.


- Pelos anos da minha pré-adolescência, eu sempre tinha um livro de “Harry Potter” nas mãos. Era conhecida como "a menina do Harry Potter" porque lia o livro durante as aulas e o recreio. A série foi uma parte marcante do meu desenvolvimento, era uma conexão com meu pai que mudou de estado quando eu era nova e também meu mundo único entre páginas gastas de uso. Ler sobre o cabelo cacheado e alto de Hermione me fez me identificar com uma personagem pela primeira vez, especialmente seu jeito sabe-tudo. Era como ler uma versão mágica de mim mesma. Harry Potter desenvolveu um compasso moral forte e me inspirou em vários momentos difíceis da vida - contou Thalia.


Outro caso de identificação com a narrativa e os personagens é a da estudante de Ciência Política Brenda Marcella Brito e Sousa, de 24 anos. Ela teve como companhia os livros durante sua adolescência e eles tiveram uma participação em seu crescimento.



- A segunda vez que eu li a série de Harry Potter foi na verdade a mais importante para mim. Eu tinha 17 anos e tive minha primeira grande crise de depressão e reler os livros foi como reencontrar amigos queridos e foi muito importante no processo de recuperação da depressão - contou Brenda.


Já a publicitária Camila Breves, de 24 anos, leu a saga quando era mais velha. Contudo, a influência das personagens femininas a afetaram profundamente. Para ela, “essas personagens não estão na história só para “cumprir a cota” de mulheres ou fazer par romântico, como muitas vezes acontece. Seus papéis são realmente significantes e impulsionam a narrativa”.


- Nos livros, poucas vezes as personagens são descritas pela sua beleza ou delicadeza. O foco está no caráter, inteligência, liderança, poder de persuasão, braveza, lealdade e coragem. Esse é o exemplo que acredito que meninas devem ter. Para construírem sua personalidade com base nas suas ambições e competências, e não dando a grande importância a aparência como a mídia normalmente faz - afirmou Camila.



 
 
 

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Estudantes de Comunicação Social da PUC-Rio. Projeto sobre os 20 anos de Harry Potter desenvolvido para a disciplina de "Redação em Jornalismo Impresso", turma 2IC. 

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