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Obra forjou uma geração de escritores de fantasia no Brasil

  • Letícia Höfke
  • 24 de mai. de 2017
  • 5 min de leitura

A escritora e jornalista brasileira Renata Ventura (foto acima) escreveu a série “A Arma Escarlate” e trouxe o universo de Harry Potter para o cenário carioca do fim dos anos 90. O primeiro livro da série foi lançado em novembro de 2011, depois de cinco anos de trabalho. Na história de Renata, Harry se torna Hugo, um morador do morro Santa Marta. Durante um tiroteio, ele descobre ser um bruxo e vai para uma escola de magia no Corcovado. A obra é também uma crítica social, abordando temáticas muito presentes na sociedade brasileira.


- Os temas abordados no primeiro livro vão de desigualdade social à tráfico de drogas, corrupção na polícia, na política, na escola. Discuto educação, pedagogia, respeito, bullying, tolerância, tudo. O segundo livro já é mais político. Fala de eleições, de protestos, de ditadura, mas também de amor, de decepção, de machismo, de gravidez na adolescência, de tolerância religiosa. O terceiro irá tratar do meio ambiente, da Amazônia, das culturas indígenas, do preconceito, do desconhecimento, da mitologia do norte do Brasil - contou Renata.


A valorização da cultura nacional é um ponto importante de “A Arma Escarlate”. Segundo a autora, quanto mais o Brasil for usado como cenário em histórias, mais entusiasmados os leitores começarão a ficar com relação ao próprio país. Leandro Borges, que trabalhou no fansite Potterish.com e é leitor dos livros da Renata, disse que ficou impressionado ao ver a cultura e a realidade brasileiras serem retratadas de forma tão fiel, com a mesma veneração com que a cultura de outros países é mostrada nos livros estrangeiros.


- Destacar as diferenças regionais e até políticas do nosso país dentro da ficção faz o jovem perceber essas coisas com um olhar diferente que é o que fazemos quando olhamos para a cultura de outros países. O fato de estarmos inseridos em uma determinada cultura nos faz olhar para isso como se fosse banal e deixar de perceber as vantagens que possuímos posto que tomamos tudo como obrigatório - disse Leandro.


Hugo começa a história ameaçado de morte pelos chefes do tráfico, antes mesmo de descobrir que é bruxo. Então, na escola de magia, ele quer aprender o suficiente para voltar a matar aqueles que o humilharam a vida inteira. Apesar de apresentar semelhanças com Harry Potter, o personagem criado por Renata tem uma personalidade mais impulsiva e agressiva que o inglês.


- Hugo é um anti-herói, um menino um pouco agressivo, impulsivo, egoísta, ambicioso... nada parecido com o Harry. O oposto do Harry, na verdade. Ao contrário de Harry, desde o início, Hugo vê sua varinha como uma arma, não como uma ferramenta - contou Renata.


Em “A Arma Escarlate”, há cinco escolas no Brasil, uma em cada região do país. Essas escolas são completamente diferentes umas das outras em método de ensino. Até seus professores têm comportamentos e atitudes diferenciados. A escola do Rio de Janeiro tenta sempre imitar a Europa, mas é uma bagunça. A de Salvador é bem mais livre, mais alegre e cheia de magia africana. Na Amazônia, o colégio de bruxos é rico em mitologia indígena e amazonense. A escola do Centro-Oeste fica em Brasília e a do Sul, em Curitiba. Antes, ficava em Porto Alegre, mas acabou mudando de lugar quando a Revolução Farroupilha estourou e o Rio Grande do Sul deixou de fazer parte do Brasil por uma década. A história se passa em 1997. Renata escolheu esse ano, porque foi uma das épocas mais sangrentas da comunidade Santa Marta, no morro Dona Marta.


"A Arma Escarlate" da brasileira Renata Ventura


Apaixonado por livros, Pedro Martins descobriu a magia por meio dos escritos de J.K. Rowling aos oito anos. Essa paixão o tornou webmaster do Potterish.com e o possibilitou escrever uma resenha sobre A Arma Escarlate para o jornal The Guardian. Pedro Martins conta que para ele era inevitável imaginar como seria o universo de Harry Potter no Brasil e o livro de Renata Ventura chegou para suprir essa curiosidade.


- Mas, a partir do instante em que você entra na Nossa Senhora do Korkovado, descobre que a história vai muito além: os personagens de Renata Ventura são verossímeis a nossa realidade, os feitiços são escritos nas línguas nativas Tupi e Iorubá e, talvez o mais surpreendente, Renata não constrói apenas uma escola de bruxaria no Brasil. Ela constrói cinco! - disse Pedro.


Como webmaster do Potterwish.com, ele convive diariamente com leitores de “Harry Potter”. Segundo Pedro`Martins, ele não viu nenhum dos potterheads - nome dado aos fãs do universo de J.K Rowling - do Brasil se decepcionando com a “A Arma Escarlate”. Pelo contrário, a riqueza com que Renata tece sua narrativa e a presença de elementos da cultura nacionais conquistaram muitos fãs brasileiros de “Harry Potter”.


Renata Ventura não foi a única escritora a ser influenciada por “Harry Potter”. De acordo com a editora executiva da Galera Ana Lima, a obra de JK Rowling foi um “divisor de águas para o mercado literário”. Por ter sido um megaseller, os holofotes de repente viraram para um tipo de literatura jovem de fantasia bastante comercial.



Escritores estrangeiros como Cassandra Clare, autora da série “Instrumentos Mortais” (foto ao lado) e Taran Matharu, autor de “Conjurador”, tiveram bastante influência da história de Harry. A primeira conta a história de Claire, uma garota que, assim como o bruxo de JK Rowling, descobre que não é uma humana comum e se vê envolvida em um mundo de fantasia com guerreiros secretos dedicados a libertar a terra dos demônios. Os livros fizeram tanto sucesso que ganharam uma adaptação para o cinema e um seriado na Netflix.


Já “Conjurador” também mostra um colégio de bruxos. Fletcher, um orfão de 15 anos, consegue uma vaga na Academia Vocans, uma escola de magos que prepara alunos para o campo de batalha. Temas fantásticos como feitiços, anões, elfos, entre outros, que estão presentes em Harry Potter, são também encontrados nessa série. No Brasil, de acordo com Ana Lima, o mercado de livros de fantasia ainda é pequeno e pouco desenvolvido comparado com o internacional. Há ainda falta de World building, que é o processo de construir um mundo imaginário para uma narrativa fantástica.


- Grande parte é um pastiche do que já existe, normalmente confuso e com referências demais. Ainda que sua fantasia tenha influência de “Harry Potter”, ela precisa ter originalidade, o que não fará do seu livro mais uma cópia, mas um romance bom que se inspirou naquele universo. Em fantasia, há um trabalho essencial, que é o world building. No Brasil, ainda há carência de um bom world building em fantasia - explicou Ana.


É comum que “Harry Potter”, por ter sido uma grande obra, exerça influência nos escritores iniciantes que querem escrever fantasia, sendo eles brasileiros ou não. Porém, o livro também influencia indiretamente. Muitos jovens, que se tornaram escritores, começaram escrevendo fanfics sobre o universo mágico. Fanfics são 'ficções de fãs', isto é, histórias criadas por fãs baseadas nas já existentes. Foi o caso, por exemplo, de Babi Dewet, autora da trilogia Sábado à Noite. Sua história é completamente diferente da criada por J.K. Rowling. Em seus livros, Babi narra a história de adolescentes descobrindo seu papel no mundo. Entretanto, ela descobriu seu amor pela escrita através das fanfics de “Harry Potter” que escrevia em sites como Aliança Três Vassouras e Beco Diagonal.


Babi Dewet, autora da trilogia Sábado à Noite


Já a jornalista Frini Georgakopoulos iniciou sua carreira na literatura participando de eventos de Harry Potter. Hoje, ela é mediadora de um deles, conhecido como como Clube do Livro Saraiva. Frini ainda escreveu o livro “Sou Fã! E Agora?” que fala sobre a questão do fã de sagas.


- Harry não influencia escritores brasileiros. Harry influencia pessoas e pessoas influenciadas podem se tornar novos escritores ao invés de seguirem carreiras das quais não gostam para pagar as contas das viagens que fazem para fugir do trabalho - disse Leandro Borges.



 
 
 

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Estudantes de Comunicação Social da PUC-Rio. Projeto sobre os 20 anos de Harry Potter desenvolvido para a disciplina de "Redação em Jornalismo Impresso", turma 2IC. 

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